O que é o jornalismo do Plural
Curso de Formação Inicial para Autores Parceiros do Plural
Nesta aula, você vai conhecer a história do Plural, o tipo de jornalismo que praticamos, nossos valores, estilo editorial e como escolhemos pautas. Ao final, você fará um exercício prático para começar a pensar como autor do Plural.
Tópicos principais:
- História e fundação do Plural
- O foco no jornalismo local
- Valores editoriais: independência e ética
- Estilo e identidade dos textos
- Como o Plural escolhe pautas
- Exercícios práticos de fixação
Como o Plural nasceu
1.1 De uma demissão a um novo jornal
Em 2018, pouco depois da eleição de Jair Bolsonaro, o jornalista e colunista político Rogério Galindo foi demitido do jornal Gazeta do Povo, onde atuava há muitos anos.
Galindo e sua esposa, a jornalista e professora universitária Rosiane Correia de Freitas, passaram então a discutir o próximo passo.
O dilema era claro:
- Como seguir trabalhando como repórter com independência e dignidade?
- Como manter uma remuneração compatível com quase 20 anos de carreira?
- Como não abandonar o jornalismo diário — visto por ambos como essencial para suas trajetórias profissionais e para a democracia brasileira?
Atividade rápida
Qual foi a última notícia local que realmente impactou sua vida?
1.2 O financiamento coletivo que deu vida ao Plural
Para tirar o projeto do papel, o casal optou por uma campanha de financiamento recorrente no Catarse.
Foi uma das primeiras campanhas bem-sucedidas da plataforma voltadas à assinatura de veículos jornalísticos.
A ideia era simples e radical: um jornal financiado pela comunidade, não por grandes grupos econômicos.
- Leitores apoiam o jornal antes mesmo de ele existir.
- O modelo privilegia independência editorial.
- A base de assinantes permite planejar e manter o projeto vivo.
Reflexão
Por que você acha que leitores decidiram apoiar um jornal antes do lançamento?
1.3 A chegada de Benett e a equipe fundadora
Em dezembro de 2018, o projeto ganhou seu terceiro sócio: o cartunista Benett.
A equipe inicial do Plural combinava três forças principais:
- Experiência e talento no jornalismo escrito de Rogério Galindo, com forte atuação em política.
- Linguagem humorística e precisa de Benett, trazendo crítica e expressão visual para o jornal.
- Conhecimento técnico e experiência com tecnologia de Rosiane Freitas, responsável pela estrutura técnica e digital do projeto.
1.4 Lançamento oficial e propósito
O Plural entrou no ar de forma definitiva em 14 de janeiro de 2019, na URL www.plural.jor.br.
A proposta era clara desde o início:
- Produzir jornalismo local independente e de qualidade em Curitiba e região.
- Focar no que afeta diretamente a vida das pessoas.
- Construir uma relação de confiança com leitores e assinantes.
1.5 Sete anos de estrada
Em janeiro de 2026, o Plural completa 7 anos de trajetória. Nesse período, o jornal enfrentou muitos desafios:
- Dificuldade em financiar o custo real de produzir jornalismo.
- Manter uma equipe enxuta, mas atuante.
- Lidar com inúmeros processos judiciais — todos vencidos pelo jornal até o momento.
Isso reforça dois pontos chave: o Plural atua com rigor e não se intimida diante de pressões políticas, econômicas ou jurídicas.
1.6 Linha do tempo do Plural
2018
Demissão de Galindo e concepção do projeto Plural.
2018
Campanha bem-sucedida de financiamento recorrente no Catarse.
Dez 2018
Entrada de Benett como terceiro sócio.
14 jan 2019
Lançamento oficial em www.plural.jor.br.
2019–2026
Expansão, desafios financeiros, diversos processos judiciais vencidos.
Para guardar: o Plural nasce como um ato de coragem e cidadania — um jornal local, independente, financiado por pessoas que acreditam em jornalismo.
Que jornalismo o Plural pratica?
2.1 Em primeiro lugar: jornalismo local
O Plural é, antes de tudo, um jornal local. Isso é uma escolha editorial e política.
A forma como a receita de publicidade é distribuída na internet fez com que muitos portais corressem atrás de conteúdos de alta audiência: celebridades, temas nacionais genéricos, assuntos virais.
Nesse processo, o jornalismo local foi sendo empurrado para segundo ou terceiro plano — ou simplesmente negligenciado.
2.2 Mas que jornalismo local?
Não basta falar de “local” — é preciso definir qual jornalismo local o Plural se propõe a fazer.
O Plural acredita que a população precisa:
- conhecer sua comunidade;
- entender os mecanismos que afetam a vida nela;
- saber quem toma decisões, com que recursos e com quais consequências.
A falta de conhecimento sobre pessoas, instituições e processos ao nosso redor favorece o radicalismo e nos torna mais vulneráveis a golpes e mentiras.
Informação local é uma forma de proteção contra desinformação e extremismos.
2.3 As áreas centrais de cobertura
Inicialmente, o Plural se concentrou em três grandes frentes de cobertura em Curitiba:
- Política local — Câmara Municipal, Prefeitura, decisões que impactam orçamento, serviços públicos, regras de uso da cidade.
- Cultura — produção cultural local, agendas, debates, crítica e reflexão.
- Cidade — mobilidade, educação, saúde, meio ambiente, bairros, cotidiano.
A ideia é informar as pessoas sobre aquilo que afeta diretamente sua rotina, seus direitos e sua qualidade de vida.
2.4 O princípio central
Uma pauta é prioridade no Plural quando atende a perguntas como:
- O que isso muda na vida de quem mora aqui?
- Quem ganha, quem perde, quem decide?
- Que parte da cidade não está sendo ouvida?
O que melhor define o jornalismo local praticado pelo Plural?
Exercício
Escreva um exemplo de situação local (na sua cidade ou região) que parece “pequena”, mas que na prática afeta a vida de muita gente.
Quais são os valores do Plural?
3.1 Independência
O principal valor do Plural é a independência. Não se trata apenas de uma ideia abstrata, mas de uma prática diária.
O jornal faz um esforço constante para que o conteúdo editorial não seja subordinado a interesses comerciais.
Uma forma de garantir isso é manter uma receita diversificada:
- assinaturas;
- doações;
- publicidade selecionada;
- projetos especiais;
- produtos digitais;
- programas de autores parceiros;
- editais e iniciativas específicas.
Assim, a perda de uma receita nunca é catastrófica a ponto de comprometer a linha editorial.
3.2 O exemplo das Bets
Um exemplo concreto dessa independência é a decisão editorial de não aceitar anúncios de Bets.
Embora as empresas de apostas online sejam um mercado promissor em publicidade digital, o Plural avaliou internamente que exibir anúncios dessas plataformas — que causam tanta dor e sofrimento a famílias brasileiras — seria incoerente com a filosofia do jornal.
A independência permite dizer “não” a dinheiro que entra em conflito com o interesse público e os valores da publicação.
3.3 Precisão
Outro valor central é a precisão. Antes de publicar, o autor deve se perguntar:
- Minhas informações estão documentadas?
- Posso atribuí-las corretamente a fontes verificáveis?
- Os dados e fatos foram checados?
- Estou oferecendo contexto suficiente para não induzir o leitor ao erro?
Precisão não é só não errar números; é também não exagerar, não omitir contexto importante e não sugerir relações que não possam ser comprovadas.
3.4 Ética
A ética no Plural envolve respeito às pessoas ouvidas, transparência sobre conflitos de interesse e responsabilidade com o impacto do que é publicado.
Isso inclui:
- não distorcer falas;
- não expor pessoas vulneráveis sem necessidade;
- não publicar acusações sem provas;
- não usar o jornal para disputas pessoais ou interesses privados.
3.5 Clareza
O objetivo do texto no Plural é explicar, não impressionar. A clareza é um valor em si.
Isso significa:
- frases diretas;
- parágrafos bem organizados;
- tradução de termos técnicos;
- explicação de siglas e jargões;
- foco em quem lê, não em quem escreve.
3.6 Evitar o jornalismo declaratório
O Plural reconhece a importância de ouvir pessoas e registrar declarações. Mas isso não basta para fazer jornalismo de qualidade.
Jornalismo declaratório é aquele que se limita a reproduzir falas, sem checar, sem confrontar, sem contextualizar:
- “Fulano disse X.”
- “Ciclano respondeu Y.”
Como autor do Plural, você deve ir além da fala:
- Qual é o fato por trás da declaração?
- Os dados confirmam o que foi dito?
- Outra parte precisa ser ouvida?
- Qual o histórico dessa afirmação?
3.7 Iluminar o que merece atenção
O Plural quer escrever sobre aquilo que merece atenção, mas não a tem. Isso inclui acompanhar:
- conselhos municipais;
- orçamento e execução orçamentária;
- escolas públicas e postos de saúde;
- a atuação de empresas privadas na cidade;
- decisões que raramente aparecem nos releases da prefeitura, mas têm grande impacto.
Às vezes o Plural noticia algo ao mesmo tempo que outros veículos. Mas o que realmente diferencia o jornal é quando ele consegue:
- trazer à tona o que estava oculto;
- traduzir temas complexos para a população;
- gerar mudanças positivas a partir do olhar público.
3.8 Um exemplo: a eleição para conselheiro tutelar
Uma das experiências mais marcantes do Plural foi a cobertura das eleições para conselheiro tutelar em Curitiba.
O jornal acompanhou de perto:
- tentativas de crime eleitoral;
- pressões e ameaças;
- estratégias de grupos de interesse para influenciar o processo;
- a disputa por um cargo fundamental na proteção de crianças e adolescentes.
Essa cobertura mostrou o papel do jornalismo local em iluminar processos pouco visíveis, mas decisivos para a vida em comunidade.
Reflexão
Qual tema, na sua cidade, você acredita estar “no escuro” — algo importante, mas que quase ninguém acompanha?
Estilo e identidade dos textos do Plural
4.1 Não temos um manual rígido de estilo
O Plural não tem um manual de estilo fechado. Em vez disso, incentiva que cada autor desenvolva sua própria voz, desde que respeite alguns princípios básicos.
Seu estilo é bem-vindo, desde que você:
- não abra mão de informar com clareza;
- deixe claro o foco (lead) da reportagem;
- não tente transmitir opinião em textos informativos;
- evite o uso de adjetivos, especialmente quando não respaldados por fatos.
4.2 Clareza e foco
Tudo começa com o lead: o ponto central da matéria, aquilo que o leitor precisa saber primeiro.
O lead deve responder:
- O que aconteceu?
- Por que isso importa?
- Quem é afetado?
4.3 Informação x opinião
Textos informativos devem se concentrar em fatos, dados, documentos e fontes.
Opinião tem seu espaço no jornal — mas deve ser claramente identificada e separada da reportagem factual.
4.4 Adjetivos com cuidado
Adjetivos como “polêmico”, “vergonhoso”, “excelente” podem esconder juízos de valor. Sempre que possível, troque o adjetivo por um fato.
Por exemplo:
- Em vez de “a polêmica obra”, mostre há quanto tempo está atrasada e quanto custou.
- Em vez de “a excelente iniciativa”, mostre resultados concretos obtidos.
Qual das frases abaixo é mais adequada ao estilo informativo do Plural?
Exercício
Reescreva uma frase opinativa em formato informativo, sem adjetivos julgadores:
Como o Plural escolhe pautas + Boa pauta local
5.1 Fontes e confiança
Um dos principais papéis do autor do Plural é formar uma base de fontes em diferentes grupos sociais.
Ninguém consegue saber tudo o que acontece na cidade. Mas, com o tempo, os repórteres do Plural perceberam que as pessoas são muito generosas com jornalistas dispostos a trabalhar com independência e qualidade.
5.2 Acompanhar os processos formais da cidade
O Plural também é fã de acompanhar os procedimentos formais que regem a vida da cidade. Isso inclui:
- ler o Diário Oficial;
- acompanhar releases e documentos de órgãos públicos;
- prestar atenção em publicações do Judiciário;
- acompanhar conselhos e colegiados;
- ler editais, contratos, licitações.
Muitas vezes não é para noticiar imediatamente, mas para entender o contexto. As pautas, nesses casos, surgem com naturalidade.
5.3 Pautas policiais: quando vale a pena?
O Plural só cobre pautas policiais quando há relevância clara ou quando elas indicam um problema sistemático.
Em geral, outros veículos fazem cobertura policial intensa. Como os recursos do Plural são menores, o jornal escolhe focar no que os concorrentes não fazem, mas que é relevante e pouco visível.
5.4 Esportes e consistência
Em Curitiba, o Plural não tem foco em cobertura de futebol — novamente porque já há veículos com grande estrutura dedicados a isso.
Em cidades menores, no entanto, pode fazer sentido cobrir esportes, pois estão fortemente ligados à identidade local e podem ser mal cobertos por outros meios.
Mas antes de se lançar em qualquer cobertura temática, é importante lembrar de algo fundamental no jornalismo digital:
Consistência: o público aprende a procurar certos sites porque pode contar com eles para determinados tipos de informação.
Se você quer ser referência em uma área, precisa ser consistente e manter uma cobertura constante.
5.5 O que esperamos de uma boa pauta local?
Uma boa pauta, para o Plural, normalmente:
- tem impacto direto na vida dos moradores;
- está conectada a decisões, políticas ou recursos públicos;
- traz algo que ninguém está cobrindo direito;
- vai além do declaratório e busca documentos, dados e contextos.
Qual das ideias abaixo tem mais perfil de pauta do Plural?
Exercício
Liste 3 possíveis pautas locais na sua cidade que você acredita que poderiam ser cobertas pelo Plural.
Concluindo a O que é o jornalismo do Plural
Revisão Rápida
- Como o Plural nasceu e por que é financiado pela comunidade.
- O que significa fazer jornalismo local, independente e de qualidade.
- Quais são os valores centrais: independência, precisão, ética, clareza.
- Como evitar o jornalismo declaratório.
- Como o Plural escolhe pautas e por que a consistência é tão importante.
Teste seu conhecimento
1. O que garante a independência editorial do Plural?
2. O que é jornalismo declaratório?
3. Por que consistência é importante no jornalismo digital?
Desafio Final
Exercício
Descreva o tema, quem é afetado e por que ele merece atenção especial.